Fantasma Neon Leonardo Martinelli, 20’, PUC
Sinopse
Um entregador de aplicativo sonha em ter uma moto. Disseram a ele que tudo seria como um filme musical.
Contato
leonardomartinelli.nave@gmail.com
FICHA TÉCNICA
Direção: Leonardo Martinelli
Produção: Ayssa Yamaguti Norek, Leonardo Martinelli, Rafael Teixeira,
Roteiro: Leonardo Martinelli
Fotografia: Felipe Quintelas
Direção de Arte: Vic Estevs
Som: Caio Alvasc
Montagem: Lobo Mauro
Trilha Sonora: Ayssa Yamaguti Norek, Carol Maia, José Miguel Brasil, Leonardo Martinelli
Crítica
Nos teatros vazios ou nas pequenas interações possíveis pela espera de trabalhadores para fazer suas entregas – de uma lista de possibilidades ditadas no início – pedidas por aplicativos, a estetização e cuidado nos planos alinhadíssimos e interessantemente iluminados em “Fantasma Neon”, dirigido por Leonardo Martinelli, parece perguntar: ninguém está vendo isso não?
Chama atenção o canto lírico, como um musical que abre e entrecorta o filme, as cores vermelhas e laranjas que são realçadas por luzes de faróis de carros. Relatos sobre a vivência urbana são interpretados na rua ao olhar compenetrado dos semelhantes que conhecem bem a situação, os ‘giroflex’ policiais ao fundo, sempre à espreita. Trajados com mochilas térmicas de isopor, essas ‘assombrações’ já foram vistas por todos nós. Quem sabe não já tocaram nossas campainhas. Mas parece que só dançando com caixas enormes nas costas, – o quão desconfortável deve ser carregar aquilo nas costas, você sabe? – enquanto desvia das armas apresentadas no jogo de montagem, é que olhamos com atenção para eles.
João – nosso protagonista – canta, dança, se revolta e carrega nas costas itens de ’delivery’. Está sempre acompanhado por outros, relembrando sonhos e lamentando a fome enquanto nos olha nos olhos, plano que entrega impacto penetrante. São negros, homens e mulheres, fantasmas na vida e na morte – quando o sangue se transforma em ketchup nos cortes rápidos, não há motivo pra preocupação. Tudo o que são e que sonham é engolido pelo isopor térmico, em poesias visuais que somem com cabeças e com aviões.
A sensação revoltosa acompanha toda a obra. O canto que começa solitário vai ganhando resposta em coro de outros que sofrem o mesmo diariamente e são acusados de ”estar no caminho”. Ao fim, a movimentação de tantos corpos em meio ao caos abaixo de um viaduto proclama visualmente ”This is America”, mas o que instala é mais um ”Zé do Caroço”, com ares necessários de Paulo Galo. Esses já existem, prestemos mais atenção para não precisarmos de neon.
Raphael Prestes