Madeira de Lei Kalor, 10’, UNINASSAU

Sinopse

Para se proteger do novo coronavírus é importante se confinar e limpar a casa constantemente, realidade já bem comum à boa parte das donas de casa e empregadas domésticas brasileiras. Esse é um relato audiovisual em primeira pessoa feito pelo diretora-performer Kalor, também roteirista do filme e cria de @acasadedonarlinda em que pulsa a história que se espraia por todo o Brasil

Contato

Kalorpacheco@gmail.com

FICHA TÉCNICA

Direção, Produção, Roteiro, Fotografia, Direção de Arte: Kalor

Som:Aisha Lourenço

Montagem: Erlânia Nascimento

Trilha Sonora: Aisha Lourenço Kalor e Mestre Ligeirinho

Crítica

Próximo ao fim de sua densa obra “Madeira de Lei”, Kalor, a diretora, nos fala, ao som etéreo de uma flauta e ao pé de uma fogueira, sobre ser uma das tantas mulheres que descendem da África. Ao mesmo tempo, toca na minha mente trecho da canção ”Zumbi” de Jorge Ben Jor, em que se fala sobre quem são aqueles que foram trazidos e foram vendidos forçadamente: ”Há um grande leilão/ Dizem que nele há uma princesa à venda/ Que veio junto com seus súditos/ Acorrentados em carros de bois”.

Kalor, claramente, sabe disso. Ao dedicar o filme às suas mais velhas, da casa de sua avó na Rua Vila Velha em Santa Mônica, lá em Camaragibe – apresentada em recurso digital que mostra o cantinho exato de onde a mente reflete. Sabe que está fazendo um filme, sabe que está em uma pandemia, sabe de onde veio. Sua árvore genealógica é apresentada em caixa alta pelas imagens na tela, com fotos 3 por 4, de suas vós, aos seus pais. O tempo se inscreve nos móveis oleados por peroba, nos trabalhos domésticos que ela realiza, – aqui, para si, em contraposição ao que foi para sua mãe e suas mais velhas – nos calendários e chamadas de notícias que correm a tela repetidas vezes – recurso visual tão sagaz da linguagem reconhecível da TV -, com datas e acontecimentos que embrulham o estômago.

A pandemia que Kalor sabe enxergar também traz embrulho. Além das notícias transcritas em tela, os vídeos e áudios explicitam a relação da morte da população negra acorrentada ao trabalho para a classe média branca. A morrer, porteiros e domésticas foram obrigados a continuar trabalhando sem poder tomar o cuidado que era necessário. Poderia – e será que não foi? – ser as mulheres da sua família. Kalor pensa nas suas e sabe o que contar sobre si e sobre quem fez ela ser. Toda a admiração por elas é explicitada pelo caminho que sabe ter sido percorrido até a história estar contada no agora e apesar de tudo.

Raphael Prestes